SEM SE AFASTAR DA ESPERANÇA
(A perseverança do ser humano)
... não vos deixando afastar da esperança do evangelho que
ouviste (Cl 1:23).
A salvação é
um presente que pode ser perdido. Não ensinamos que “uma vez salvo, sempre
salvo”, independente do que façamos. Na justificação, fomos livres da
penalidade do pecado. Na santificação, estamos sendo livre do poder do pecado.
Na glorificação, que acontecerá com a segunda vinda de Cristo, estaremos para
sempre, livres da presença do pecado. Até que este dia não chega, a Palavra de
Deus é clara quando diz: Por isso é
preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos (Hb 2:1 – NVI – grifo nosso).
A
palavra “desviemos”, utilizada pelo autor de Hebreus, era usada para descrever
um rio que corria fora do curso, também indicava algo que fugia da memória da
pessoa ou um anel que escapava do dedo. No texto em questão, tem o sentido de
“achar-se no estado de desvio”.[1]
Se o cristão não atentar constantemente às verdades do evangelho, pode achar-se
neste estado. A mensagem deste texto é clara: um cristão convertido pode sim se
desviar. Por isso, o versículo seguinte questiona: Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? (v.
3).
Além
do autor de Hebreus, Jesus também alertou seus discípulos sobre o perigo de
serem desviados (Mt 24:3-14). Será que ele faria este alerta se não fosse
possível que isto acontecesse? É claro que não! Para Jesus, perseverança da
parte do crente, é uma virtude necessária com relação à salvação: Aquele, porém, que perseverar até o fim,
esse será salvo (Mt 24:13; 10:22; Mc 13:13; Jo 8:31-32; Ap 2:10). Não
haverá vitória final se, da parte do crente, não houver perseverança. Este é o
claro ensino de Jesus. Do contrário, a expressão “aquele que perseverar até o
fim”, não faria sentido algum. Em Apocalipse, ele, igualmente alertou a igreja
de Filadélfia: ... conserva o que tens,
para que ninguém tome a tua coroa (Ap 3:11). A coroa é símbolo da nossa
salvação, do nosso prêmio final (2 Tm 4:8; Ap 2:10).
Este
símbolo foi tirado do atletismo, pois a coroa era o prêmio dado aos atletas que
se sagravam campeões ao final das competições. Jesus o usa para se referir a nossa
corrida cristã rumo ao prêmio celestial. Como lemos, esta coroa pode ser “tomada”
de nós. Esta é uma clara advertência quanto a fracassar na corrida da fé. Para
que isto não ocorra, precisamos “conservar” o que temos, isto é, precisamos
continuar leais até o fim para sermos vencedores. A igreja de Filadélfia era
fiel a Palavra (3:10) e deveria permanecer assim até o fim! Neste texto
observamos claramente que, a proteção divina – eu te guardarei (3:10a) – e o empenho humano – Conserva o que tens (3:11a) – vão lado a lado.[2] Deus
deseja nos salvar, mas reciprocamente devemos desejar isso e viver a
santificação.
Em
Colossenses, existem, também, duas expressões muito claras, quanto a
possibilidade de o crente perder a salvação: agora, porém, vos reconciliou (...) para apresentar-vos perante ele
santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se
é que permaneceis na fé, não vos
deixando afastar da esperança do
evangelho que ouviste (1:22-23 – grifo nosso). Segundo este texto,
aquele que foi reconciliado, pode não permanecer na fé – “se é que permaneceis”
- e se afastar da esperança do evangelho que ouviu – “não vos deixando
afastar”. O livre arbítrio não é destruído no momento em que uma pessoa aceita
Jesus;[3]
o risco da apostasia é real se esta não perseverar, preservando, assim, a sua
salvação (cf. Hb 6:4-11).
Segundo a Bíblia, cristãos
genuínos podem “cair” (Hb 6:6), e perder sua salvação. Mas, o que significa
“cair”? É bom que se diga que não é uma referência a pecar, de modo geral.
Apesar de não fazer do pecado um estilo de vida (1 Jo 3:6,9), mesmo depois de
convertido o cristão peca (1 Jo 1:8), todavia, pode se confessar (1 Jo 1:9),
pois tem um advogado (1 Jo 2:1). “Cair” não é cometer adultério, e nem pode ser
identificado com aqueles momentos de fraqueza na vida cristã. “Cair”, então, é uma referência a apostasia, e
“envolve negar a Cristo após ter experimentado sua graça e sua salvação
(frequentemente abraçando outra religião, como por exemplo o judaísmo, o
budismo, o ateísmo, etc.)”.[4] Diz
respeito a repudiar a salvação recebida em Cristo.
Contudo,
dizer que precisamos preservar a nossa salvação não é defender salvação por
meio das obras. É preciso um pouco de cuidado nesta parte. Como aprendemos,
quando estudamos sobre justificação, a salvação é recebida gratuitamente, pela
fé. Depois disso, entramos no processo de santificação. Nesse processo, o
desejo de nos afastarmos do pecado e de nos parecermos cada vez mais com
Cristo, apesar de ser uma exigência – afinal, sem santificação ninguém verá o Senhor –, não deve ser encarado
como uma imposição penosa, mas como uma resposta de gratidão e amor pela
salvação recebida gratuitamente. Por amor, e só por amor, devemos perseverar
até o fim.
É
importante entendermos, por fim, que todo cristão pode caminhar com a certeza
da sua salvação (1 Jo 5:13). Nós somos salvos. Só não seremos salvos se, no
meio do caminho, abandonarmos Cristo e nos apostatarmos. Quando um cristão peca,
continua com a sua posição diante de Deus inalterada. Ele confessa, pede
perdão, mas não perde a sua salvação, afinal, estamos no processo de
santificação, isto significa que não estamos completos, ainda falharemos, mas
não significa que perderemos nossa salvação alcançada pela graça sem
méritos. Para perder, só se não perseverarmos
até o fim e abandonarmos Jesus no meio do caminho, é o que chamamos de
apostasia. Para quem se apostata, é um caminho sem volta.
PARA REFLETIR
01. Como
crente em Cristo, posso caminhar com a segurança da minha salvação? Reflita
sobre 1 João 5:13.
02.
Biblicamente falando, uma pessoa pode perder a salvação? Se sim, em que condições?