segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O SIGNIFICADO DA MISSÃO
Texto-base: João 17:18


INTRODUÇÃO

De acordo com a SEPAL, com base nas últimas pesquisas do IBGE, em 2020, os evangélicos poderão ser mais da metade da população brasileira. O Correio Brasiliense publicou uma matéria em que se estima que quatorze mil igrejas são abertas anualmente no Brasil. Só em 2013, quase cinco mil igrejas foram registradas, com CNPJ. Isso dá uma média de 12 igrejas por dia, uma a cada duas horas.[1] É muita igreja e muita gente se aproximando de Cristo. A grande questão é: Todas essas igrejas locais sabem a razão pela qual devem existir? Por que o Brasil, mesmo com um número tão expressivo de cristãos, não consegue mudar significativamente? Nós, cristãos, precisamos, com urgência, entender aquilo que Deus quer de nós, nossa missão no mundo.  
A crise da igreja da nossa época é uma crise de identidade. Por que existimos? Por que estamos na Terra? Qual a razão de Deus permitir que nos reunamos nos lugares onde estamos instalados? Em busca de respostas, apresentamos esta nova série de sermões, intitulada: “A igreja, a missão e o mundo”, para os sábados do mês de setembro de 2016. Neste primeiro sermão da série, nosso desafio será refletir sobre o significado da missão. Veremos que missão é um conceito amplo, indica tudo o que Jesus quer que sua igreja seja e faça no mundo. Se quisermos entender bem este conceito, precisamos adotar três posturas.

I. FUJAMOS DOS REDUCIONISMOS CONCEITUAIS,
 QUANDO O ASSUNTO FOR O SIGNIFICADO DA MISSÃO

Precisamos tomar cuidado com alguns reducionismos conceituais, quando o assunto é missão. Para grande parte dos cristãos, a palavra “missão” diz respeito tão somente ao ato de evangelizar. Pensar em missão é pensar em evangelismo. Pensar em missão é pensar em alguém entregando um folheto, falando de Jesus, pregando o evangelho em outro país etc. A proclamação verbal do evangelho é o foco. As igrejas são vistas como o local onde as pessoas que saem do mundo mau e cruel vão buscar refúgio. Então, acabam se transformando clubes fechados. Os únicos contatos que esses cristãos passam a ter com o mundo são “ocasionais incursões evangelísticas”.[2] 
Para esses cristãos, o mundo é visto como irremediavelmente ímpio; é definido como um barco repleto de pessoas e prestes a naufragar. A missão dos cristãos, no caso, é fazer, de modo urgente, tudo o que estiver ao seu alcance para salvar as pessoas que estão no barco, convidando-as para pularem para a igreja, uma espécie de “bote salva-vidas”, antes que seja tarde demais. Como Jesus Cristo pode vir a qualquer momento, não se deve fazer nada para tentar mudar a estrutura da sociedade, pois ela está condenada a ser destruída.
Esses cristãos só esquecem que o Deus a quem servimos é o criador do universo e que um dos seus primeiros mandamentos aos seres humanos foi o de cuidar da terra (Gn 1:28). Este mandamento não foi revogado com a queda. Ainda somos mordomos do mundo criado por Deus, e nossa missão neste mundo é muito mais que apresentar uma mensagem com a nossa voz. É claro que evangelizar faz parte da missão! Mas a missão de Deus, da qual a igreja é instrumento, vai muito além de evangelizar.
Outra forma de reduzir o significado da missão é usar de forma equivocada a palavra “missões”, dando a entender que a única forma de a igreja cumprir a missão é enviando pessoas aos confins da Terra, ou sugerir que a única forma de sermos missionários é indo pregar aos povos não-alcançados. É claro que é bíblico e fundamental esse envio, mas isso não é toda a missão. Todos já fomos enviados para ser testemunhas de Cristo. Nós estamos em missão. Além disso, podemos cumpri-la aqui, do outro lado da rua, ou lá, do outro lado do mundo.
Alguns cristãos reduzem a missão a “avanços sociais”. Pensam que a maneira de a igreja cumprir a missão é aplicar-se inteiramente à filantropia e à ação social. Para esses, a missão se confunde com o fim dos preconceitos raciais, a erradicação da miséria, o fim da corrupção, a harmonia nos relacionamentos, no desenvolvimento rural, na busca da ética profissional e a integridade intelectual.[3] É obvio que, quando o reino de Deus vier de modo pleno à Terra e a missão de Deus for concluída, todo o universo será renovado, e a Terra passará por transformações sociais. Esperamos novos céus onde habita justiça (2 Pd 3:13). Mas a missão não pode ser reduzida a avanços sociais. Milhões de pessoas estão perecendo sem Cristo e a fome espiritual destes não pode ser negligenciada! Fujamos de todos os reducionismos conceituais envolvendo o termo “missão”.

II. FOCALIZEMOS O EXEMPLO DE CRISTO,
 QUANDO O ASSUNTO FOR O SIGNIFICADO DA MISSÃO

Vamos procurar entender o significado da missão? O texto-base deste sermão diz: Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo (Jo 17:18). Se quisermos entender o que significa missão, devemos focalizar o exemplo de Cristo. Ele é o nosso paradigma. Só entenderemos corretamente a nossa missão depois de um correto entendimento da missão de Cristo: Assim como tu me enviaste (...) eu também os enviei. Deus está em missão. A palavra “missão” vem do latim missio e diz respeito ao ato de enviar ou de ser enviado: O Pai enviou o Filho. Por que o Pai enviou o Filho? Qual a missão do Filho?
Para entendermos a missão de Deus, isto é, a razão e o propósito de ele enviar o Filho, precisamos e devemos começar na eternidade, num tempo em que Deus reinava de modo absoluto sobre tudo. De acordo com a Palavra, esse Deus, Rei e soberano, decidiu criar os seres humanos bons e puros, a sua imagem, para que o conhecesse, o amasse de todo o coração e vivesse com ele em eterna felicidade, louvando-o e glorificando-o (Gn 1:26,27,31; 2 Co 3:18; Ef 4:24; Cl 3:10). Isso acontecia de maneira plena, quando Deus governava de maneira plena. Contudo, houve duas rebeliões contra o governo de Deus: uma angélica e outra humana (Is 14; Gn 3). Em razão disso, o propósito pelo qual todas coisas foram criadas não se cumpre mais de modo pleno, pois Deus já não reina na vida de todos, de modo pleno. O ser humano rebelou-se contra Deus e seu governo eterno, decidiu governar em seu lugar, decidiu ser como Deus. Chamamos isso de queda.
O homem pecou. Deixou de conhecer a Deus, de amar a seu Criador de todo o coração; afastou-se para longe dele, encontrando apenas o sofrimento e a morte. Entretanto, o rei não deixou de intervir para que todas as coisas voltassem a ser como eram antes. No seu plano eterno, a restauração já havia sido planejada, antes mesmo do pecado (Cl 1:20).
Essa reconciliação acontece por meio do envio do Filho. Com Jesus, chegou o tempo da restauração e da retomada do universo em rebelião (Mt 28:18; Mc 1:14-15). O Deus missionário enviou seu Filho para que todas as coisas fossem restauradas. Jesus se encarnou para buscar e salvar o que estava perdido (Lc 19:10), veio para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mc 10:45). Ele se ofereceu redentoramente pelo pecador.
Esse foi o ápice de sua vida de serviço e entrega pelo ser humano. Ele serviu por meio de obras e palavras. Foi enviado por causa da missão de Deus de salvar e redimir o mundo. Na eternidade, essa missão estava traçada. É só com base no entendimento da missão do Filho que podemos entender a nossa missão. Focalizemos o exemplo de Cristo, quando o assunto for o significado da missão.

III. ATENTEMOS PARA O NOSSO ENCARGO,
QUANDO O ASSUNTO FOR O SIGNIFICADO DA MISSÃO

O nosso texto-base diz: Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo (Jo 17:18). Tomando como paradigma o seu próprio envio, isto é, a sua própria missão, Jesus enviou os seus discípulos ao mundo em missão! O Jesus enviado pelo Pai comissiona seu povo para engajar-se nesse projeto de redenção de Deus. Observe que o versículo possui a expressão “Assim como”. O paradigma da nossa missão é a missão de Jesus. Mas como isso acontece na prática?
Obviamente, não somos salvadores do mundo. Não temos poder de expiar pecados com a nossa morte. Não é nesse sentido que fomos chamados, mas no sentido do serviço. Jesus se esvaziou para nos servir (Fp 2:5-8). Ele nos serviu até a morte e nos “fornece o modelo perfeito de serviço e envia sua igreja ao mundo para ser uma igreja serva”.[4] A igreja nasceu engajada em viver e anunciar, de todas as maneiras, o projeto de Deus, em Cristo (2 Co 5:17-21). A principal razão de sua existência é participar dessa ação de Deus em sua missão de restaurar todas as coisas. Por isso, ela deve enxergar-se como uma comunidade em missão.
Jesus disse que essa igreja possuiria a chave do reino dos céus, seria a comunidade do reino (Mt 21:43), anuncia o tempo da restauração, da chegada do reino, da restauração do propósito original de Deus para os seres humanos. A igreja, dessa forma, já nasceu comissionada a conclamar o mundo, através de serviço, amor, testemunho e presença, a reconhecer o rei. Ela é missionária por sua essência e, por isso, deve ser voltada para “os de fora” (o mundo), à semelhança de Cristo, que a enviou.
Em algum sentido, Deus não tem uma missão para a igreja, mas uma igreja para a sua missão. Deus está ativo no universo, empenhado em restaurá-lo, e a igreja é um instrumento dessa missão, desse propósito. A igreja é, por natureza, uma comunidade missional. E o que isso significa? A palavra missional é um adjetivo. Uma igreja missional é uma reconhecida por viver para a missão. Tudo que ela é e faz tem como horizonte a missão de Deus. É uma comunidade que se compreende em missão no mundo. Está engajada em fazer o reino visível em todos os lugares, para que o supremo propósito de Deus seja cumprido.
Missão diz respeito a tudo que Deus enviou sua igreja a ser e fazer no mundo. Ele nos mandou fazer o bem? Isso é missão. Ele nos mandou evangelizar? Isso é missão. Ele nos mandou discipular? Isso é missão. Ele nos mandou adorar? Isso é missão. Ele nos mandou amar? Isso é missão. Ele nos mandou servir? Isso é missão. Tudo que fazemos de forma intencional para que Cristo seja conhecido contribui para que o plano de Deus se cumpra. Quando damos testemunho de Cristo com nosso caráter ou quando sinalizamos o reino de Deus com nossas obras, estamos no lugar exato e fazendo aquilo que Jesus espera de nós.
           
CONCLUSÃO

            A igreja só existe por causa da missão. Deus está em missão para restaurar todas as cosias, e nós, como igreja, somos instrumentos dessa missão, existimos por causa dessa missão. Cada cristão, nesse sentido, é desafiado a viver no dia-a-dia engajado na missão de contribuir para que o mundo seja novamente reconciliado com Deus, divulgando, de todas as maneiras, o nome do reconciliador: Jesus! Façamos isso, com palavra e ações. Vamos adotar um estilo de vida missional, isto é, voltado para a missão.  
            Não desperdice as oportunidades que tiver para espalhar o amor de Deus. Quantos desejam fazer um compromisso de engajar-se nessa missão? É tempo de deixarmos de pensar apenas em nós mesmos e de como satisfazer nossos sonhos e ambições. Engajemo-nos na missão Deus! Como? De todas as formas! Evangelizando, servindo, testemunhando, amando, perdoando, discipulando, adorando, praticando a justiça, comungando etc.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Evangélicos abrem 14 mil igrejas por ano no Brasil. Disponível em: https://noticias.gospelprime.com.br/evangelicos-14-mil-igrejas-ano-brasil/ > Acesso em 20/07/2016.

STOTT, John. A Missão Cristã no mundo moderno. Tradução de Meira Portes Santos. Viçosa, MG: Ultimato, 2010.









[1] Evangélicos abrem 14 mil igrejas por ano no Brasil. Disponível em: https://noticias.gospelprime.com.br/evangelicos-14-mil-igrejas-ano-brasil/ > Acesso em 20/07/2016.
[2] Stott (2010:19).
[3] Ibidem, p.20
[4] Ibidem, p.29